Há alguns anos foi recuperado o livro Muita Luz (Beaucoup de Lumière), no qual a autora Berthe Fropo, que se tornaria, futuramente, vice-presidente da União Espírita Francesa, faz diversas acusações a Pierre G. Leymarie, então responsável pela instituição que deu continuidade à Sociedade Anônima do Espiritismo (Sociedade para a continuação das obras de Allan Kardec) e pela Livraria Espírita.
Mais recentemente, foi traduzido para o português o livro "Ficções e Insinuações" que foi publicado em 1884, assinado pelo comitê (ou conselho ou comissão) de fiscalização da Sociedade Científica do Espiritismo. Nesse livro se responde cada crítica (e em alguns momentos, cada acusação) feita por Fropo.
Além da tradução, feita por Ery Lopes, o livro contém uma série de verificações realizadas por Carlos Seth, que procurou os documentos citados no livro pela internet, em documentos primários do museu Allan Kardec On Line - AKOL e em documentos digitalizados do Arquivo Nacional da França. No escopo do que ele conseguiu encontrar, quase todos os argumentos apresentados pela comissão são sustentados.
Considerando o impacto sobre a imagem de Leymarie, construída em cima do discurso de uma das fundadoras da União Espírita Francesa, esse episódio nos faz lembrar de uma velha recomendação acadêmica: a de estudar os diversos lados de uma questão antes de escrever e concluir.
Recomendo a leitura a todos os interessados na história do espiritismo francês pós-Kardec. Mesmo mantendo minha simpatia pela União Espírita Francesa e por alguns de seus trabalhadores notáveis como Denis e Delanne, vê-se que sua institucionalização foi criada em um ambiente de insatisfação, no qual as críticas nem sempre são justas com a parte da qual se deseja separar, assim como em um divórcio. Cabe a quem está "de fora" buscar um afastamento e entender as razões das duas partes que se rompem, sem tomar partido.
Publicado originalmente no blog Espiritismo Comentado e reproduzido aqui com o consentimento do autor.
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